O Vencedor
Apesar de ter sido a mais longa de todas, não vou me desculpar por esta última ausência.
Simplesmente não fui capaz de continuar te contando.
Está me tomando já sei anos isso de te contar o que me aconteceu em pouco mais de cinco meses e, claro, suas consequências irreparáveis. Bem estes cinco meses e mais um tanto da vida que se deu antes deles. Porque eu não ia dar conta de contá-los sem que contasse tudo o que os havia construído. E, vez ou outra, por uma necessidade humana de se corresponder, te contei do como me encontrava no exato instante em que estava te contando.
Muitas vezes, abusei dos seus olhos ansiosos com longos pedidos de desculpa pela demora com que engendrava e publicava minha vida, pela pessoa que ia me tornando no capítulo que você acompanhava e pela pessoa que você ainda não me viu se tornar.
Acho que toda a demora me ajudou. Vi tantos de mim neste tempo, todos os eu que eu contara e também todos os eu que iam contando, que sinto que foi um privilégio tentar me costurar antes para mim do que para você.
O eu que hoje narra, em acordo com aqueles todos desde que começamos, só sente que deve um pedido de desculpas. Dois. Se considerarmos o devido à sociedade, que até já foi feito segundo consta nos autos.
O outro perdão, porém, segue impossível e, embora, muito certamente, todo o amor o viesse a fazer pronunciado, segue calado, trancado em boca que não mais pode se abrir.
Por isso que tanto demoro, também. Acima de tudo.
Acima de tudo, o pesar punitivo do contar, que se revive e requentado. Demoro porque temo cada encontro das minhas digitais com o digitado. O ruído que isso causa. O rasgo que isso abre.
As minhas digitais mudas nos fios trançados. Os meus dedos cortados porque há cerol nos fios, nas teclas.
Sumi porque era insuportável contar. Quem é que gosta de voltar num passado de que tanto desgosta? Mas preciso colocar pra fora antes que eu exploda, preciso, talvez, do perdão social dos que me leem, ou talvez porque deseje secretamente todo o escrutínio que não me permito crer não merecer.
Passei por precisar contar, querer fugir de existir enquanto contava, precisar deixar, fingir que não tinha vivido, quiçá contado. Só a mera lembrança deste blog me causava ânsias de vômito e dores na alma que eu nem me atreveria a digitar a url na barra de endereço. A palavra conto me causava náuseas e um dos comentário, em especial, que dizia “RIP” terminou de fato de jogar a última pá de terra sobre qualquer chance que eu tinha de prosseguir e, de fato, talhou a lápide da sepultura do meu desabafo. Lápide esta que espero remover agora.
Conto com comentários de força pra seguir em frente. Conto com uma comunidade que me abrace porque eu mesmo não consigo fazer isso. Se puderem me perdoar pelo que vão ler adiante, eu gostaria de receber este carinho de alguma forma.
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Eu estava numa baladinha, né?
Um menino, bem do gatinho, pintosa feito eu, sorria pra mim de longe, cheio de desejo. Entrei na dele e ia sorrindo de volta. O vi aproximar-se aos poucos, tímido, até que, de frente pra mim, sorriu mais lardo e nos atracamos num beijo intenso.
Abri os olhos enquanto beijávamos. Não sabia exatamente o porque. Mas olhando de lado com sua boca ainda dentro da minha, descobri o que me fizera abrir os olhos: o fogo dos olhos de Maurício incendiava minha pele purpurinada.
A princípio, não dei importância, já havia visto tantos Maurícios que não eram Maurício nos últimos dias, e inclusive ali dentro mesmo, que não acreditei, de pronto, que se tratasse do verdadeiro.
Mas a ardente frieza daqueles olhos era inconfundível. Desta vez, não era uma ilusão do meu desespero. Era o meu próprio desespero materializado, e vidrado à minha esquerda.
Afastei o menino, que nada entendeu, tentando ser sutil.
Capítulo 24
Todas estas pessoas e sons e vozerio e luzes que piscavam freneticamente foram todos, freneticamente, ignorados. Engolidos pela névoa que me cercava, de tontura, tornando discernível apenas o fogo nos olhos gélidos de Maurício.
Todo empossado. Com ares de quem pegou no flagra, aquele a quem eu nada devia.
Meu estômago parecia lidar com um bolo solado e azedo, massudo, que se lhe tivesse sido empurrado goela abaixo sem que se tivesse tido a chance da mastigação.
Maurício estava, outra vez, na minha frente. Não pera, estava do meu lado. Não. Do outro lado. Do outro, agora. O salão girava em volta de mim e nem a mão de Rodolfo me segurando o braço foi capaz de me impedir de rodar. O soalho bucal enchia-se de indesejável água, o calado de um navio furado, seguida de tudo o que eu havia bebido mais a bílis, tudo no chão da casa noturna sujando os sapatos das pessoas e se espalhando até quase os pés de Maurício.
Retornei do mergulho.
De pé, reconheci a mão de Rodolfo segurando meus cabelos num rabo de cavalo.
“Amigo?” Sua voz trêmula ao meu ouvido.
Giulia já se impunha entre Maurício e eu, mas ele não parecia notá-la, antes, só a mim e ao fio de gosma que se demorava no lábio inferior em precipitação ao queixo.
Sem tirar meus olhos dos dele, limpei a baba com o dorso da mão e, instintivamente, da mão nas costas do jeans, enquanto ignorava os protestos e xingamentos dos baladeiros ao meu redor: não fiz de propósito, não pude conter. Deviam ser mais empáticos. Talvez seriam se soubessem os meus motivos. E se você aí, lendo, foi uma dessas vítimas, talvez agora possa me detestar um pouco menos.
“O que você veio fazer aqui?” Gritei erguendo minha voz além da música e investi na direção dele incerto de se o queria agarrar ou unhar.
Rodolfo me desviou contundentemente da poça dos meus dejetos públicos.
“Me solta!” Rosnei.
Meu amigo, assustado, abandonou meu braço e como que voei na figura imperial da representação de Deus na Terra. Impassível como sempre, senhorial e todo nobre.
Desferi-lhe um tapa que o encheu o rosto num estalo surdo. Ao menos isso fez com que se mexesse, com que saísse de seu estado de nobreza, seu ar de graça, que ele logo recobrou.
Não demorou e os seguranças, já atentos à cena do vômito, me pegavam pelos braços e me engravatando, me arrastavam, mais Maurício, para fora da casa.
As vozes de Rodolfo e Giulia nos acompanhavam em súplicas inúteis.
Só lembro de conseguir esganiçar um “Fiquem aqui!” feroz e grosseiro aos dois.
Jogado pra fora, cambaleei até que conseguisse me segurar ao pequeno poste que dizia Rua da Carioca para um lado e Praça Tiradentes para o outro.
A chuva despencava impiedosa. Antes que eu pudesse me dar conta, estava ensopado, com a blusa cravejada do glitter do meu rosto.
“Não. Você não vai a lugar nenhum. Vai ficar aqui.” Eu disse mordendo os dentes quando vi que Maurício me dera as costas em direção ao ponto de táxi em frente à praça do inconfidente. “Você vem, vem sem ser convidado, estraga tudo e vai embora?”
Ele parou. Ainda de costas. A chuva castigava.
“É o quê? Foi o prêmio que veio buscar? Estragar o meu momento de alegria? Aparecer feito uma alma penada, inatingível, todo poderoso? SÓ PORQUE SABE QUE PODE?” Respirei encarando sua nuca. “Pra depois o quê? Se desmaterializar, infantilóide, se refugiando quando o mundo resolve não se abrir aos sorrisos a você à sua urgentíssima vontade?
Ele virou para mim. Em seus olhos eu podia ver pena, sua superiosa misericórdia.
“Não.” Eu sentia que beirava a loucura. “Você não tem direito de olhar assim. Pode ir deixando esse seu ar de lorde de merda pra trás porque sua coroa caiu. Você veio atrás de mim.” Maurício em nada alterava sua altivez, seu queixo erguia-se ao triunfo de cada nota desconcertada de voz que de mim saía.
“PARA DE OLHAR ASSIM!” Avancei nele a tapas e socos pouco producentes. Estapeando-o, o tocava. “DESCE! DESCE!” Eu ordenava e suplicava. Ele se deixava bater, impenetrável. Eu o sentia. Ele fechou os olhos, apaziguado.
Sem dificuldade, ele me dominou, fechando as mãos em volta dos meus punhos. Tinha um meio quê de sorriso no rosto dele agora. Sorriso de um triunfo quase que meigo, seus olhos brilhavam à pouca distância entre nossos rostos molhados. Ele baixou minhas mãos com força e me puxou para si e sem se importar com o verdadeiro feijãozinho de todos os sabores de vômito que eu parecia acabado de ter comigo, abriu seus grandes dentes e os fechou mais uma vez ao redor dos meus lábios, me calando, me tomando seu, me confundindo o ódio que eu sentia, me derretendo, me amolecendo, me...
Me dando nojo.
Empurrei-o. Senti o metálico do sangue que escorria, pra dentro da minha boca, de um corte feito por algum de seus dentes desavisados da desfecho do laço.
Ele olhou dolorido para o sangue e veio para mim novamente à custa de cuidar de mim. O botão hipnótico que acionava o Maurício Doce sempre que seu Sabor Tradicional me sangrava. Veio todo olhos de compaixão e braços de cuidado.
“SAI!” Gritei decidido e abafado pela chuva. “Vai fazer o quê? Me tomar nos braços e me fazer esquecer? Fazer parar de doer e me tornar seu? Você não fala?”
“Eu não sabia que você ia me empurrar. Eu não queria ter te machucado.”
“Quando é que você vai entender? Eu posso esvair em sangue, tomar um tiro, ser espancado até a morte e nada vai se comparar ao que eu sinto enquanto minha alma vai vazando por causa dos rombos que você deixa.”
“Estava tudo bem. Bom demais. Demais até pra que eu, todo idiota que sou, me permitisse acreditar. Mágico. Então, você sumiu. Sumiu porque sabia que não podia encontrar punição maior pra mim por ter contrariado sua vontade.”
“VOCÊ FOI ATRÁS DO GORDO NA PRIMEIRA CHANCE QUE TEVE. BASTOU EU VIRAR AS COSTAS!” O rei andava descalço agora, esfarrapado.
“Ah, pelo amor de Deus! Nem todo mundo é esse monstro que você gosta de ser. Eu tinha que falar com ele, olhar. As pessoas não são descartáveis, sabia? Elas não são objetos de masturbação de que depois que você goza, você pode jogar pro lado e continuar sua vida. Elas também têm sentimentos, também têm vontades... Não é só você que pode querer. Não existe só você no mundo. Tem outras pessoas. Não é porque você simplesmente some e nem sequer me manda uma mensagem que eu tenho que ser assim tão podre por dentro e vazio igual a você." Eu parei pra tomar fôlego e tirar água do meu rosto. Eu começava a sentir frio, as roupas ensopadas, até minha cueca e meias – e o All Star branco de pano.
"Você é sempre o docinho, né? É sempre o bom menino que faz tudo pra agradar todo mundo.
O anjinho. Você é o Abel e eu o Caim, o maldito. Essa porra é que irrita em você."
"Vai se tratar, Maurício!” Fui tomado de inédita indignação. “O seu problema é que eu sou legal demais? Eu tinha que ser bicho igual você e aí ficava tudo bem? Sabe porque eu sou tão assim como você disse? E engraçado, eu nunca tinha pensado nisso, vai ver também o próprio Abel foi bonzinho pelo mesmo motivo que eu: ele tinha um Caim de exemplo. Eu sempre escolhi não ser você!” E parei ao efeito do ataque em seus olhos. Ele pareceu triste. Segui tripudiando:
“Você sempre foi tão cruel e provocava sentimentos tão ruins em todo mundo que eu nunca queria ser uma pessoa como você. Eu queria sempre ser diferente, não causar nos outros os efeitos que você causava. Eu via como você tratava as pessoas e decidia que eu não ia ser assim porque era ruim, e até ridículo pra falar a verdade. O que você dizia, seus pontos de vista, as suas atitudes, tudo, eu olhava tudo e, muito cuidadosamente, escolhia não ser você."
"Mas isso nunca te impediu de ficar me babando e fazendo de tudo pela minha atenção, não é?” Se recuperou de pronto. “Se eu era sempre tão monstruoso, por que é que você insistia em ficar perto de mim?"
“PORQUE EU TE AMAVA!” Me lembro de parar ao sentir, perceber, o peso que o pretérito imperfeito impusera a este sentimento. “E isso me fazia não querer ser como você nem com você mesmo.” Uma lágrima fez chacota de meu rosto.
“Eu sou o todo errado.” Sério.
“Isso é o que, hein, Maurício? Deboche? Autopiedade?” Eu sugeri.
Maurício fez que não e desviou os olhos à procura do que dizer.
“Isso sou eu me dando conta da realidade.” Disse entristecendo. “Eu sou infantil. Um babaca, né?” Riu, dolorido.
“Sim.” Assenti, contundente.
Estávamos os dois muito ensopados que a chuva não dava trégua. Um raro passante ou outro ficavam encarando a gente, prestando atenção na nossa discussão.
“Vamos embora.” Ele disse decisivo, mas não imperial.
“Ir embora pra onde? Pra onde você vai estar? Pra ficar no seu alcance?” Eu nem sabia o que eu estava dizendo. “Não. Muito obrigado. Vou sozinho e ficar longe de você.”
“Não seja ridículo. Onde você mora? Pra onde você tem que ir?”
“É mesmo, né? Eu moro de favor na sua casa e não tenho outro lugar pra onde ir. Muito conveniente pra você. Aliás, tudo sempre foi muito conveniente pra você.” Falei com a mão na cintura afastando meu olhar dele.
“Independentemente de qualquer coisa, você não pode tá falando sério que você acha que eu vou te deixar sozinho no meio da noite, na chuva.” abriu os braços como se me apresentasse nosso cenário torrencial.
“Cara!” Despertei. “Tu tava pouco te fudendo pra mim. Lá na puta que pariu, cagando pra minha existência e agora que cansou quer vir pagando de salvador da pátria? Vai se fuder. Serinho. Vai muito. Sai.” Puxei meu braço antes que ele o conseguisse alcançar. “Você não tem vez de não deixar coisa nenhuma.” Minha mão, instintiva, no toque na calça anunciou a aliviante rigidez da carteira. Não precisava dele.
Corri atravessando a rua de nenhum tráfego e me enfiei no primeiro táxi da fila.
“Trava a porta, moço.” Eu disse. Maurício corria e quase alcançava o veículo. “Arranca!” Ordenei.
“Pra onde?” Perguntou o motorista com o pé no acelerador.
“Não sei. Só dá umas voltas e observa se o táxi do seu amigo da fila não está seguindo a gente.”
“Olha, garoto, você tem como pagar por isso?”
“O preço do taxímetro mais a metade está bom para o senhor?”
Demos voltas e voltas e acabamos bem perto de onde estávamos. Saltei na Lapa, pagando ao taxista conforme combinado. Nenhum sinal de Maurício nem da chuva, bem a não ser o estado da minha roupas. Meu cabelo ainda insistia em pingar.
Todo aquele rebuliço de emoções tinha deixado em mim necessidades que só mesmo o bairro podia resolver.
Rodei por alguns bons minutos e não encontrei o que eu precisava, ou o que eu queria pelo menos. A chuva tinha deixado o lugar muito vazio. Até que:
“Tá perdido?”
Me virei e levei um grande susto.
“Calma, meu princípe. Fica escaldado comigo, não. Sou da paz.” Disse um homen moreno, entre seus vinte e cinco e trinta anos. Sua voz malandra e sua ginga de cria fizeram com que meu cu piscasse.
“Porque este bendito deste cu meu só pisca pros canalhas?” Lembro de ter me perguntado antes de responder.
“Não é nada disse.” Ri ou tremi de frio, não lembro direito. “Você é muito parecido com um primo meu.” Não era que o sujeito era a cara do Pablo?
“Esse primo é legal com você?” O homem levou demoradamente a mão ao membro volumoso, me olhando nos olhos, vendo-os acompanharem o movimento com dedicação.
“Ah, é.” Eu disse sorrindo e piscando os olhos lentamente, como que tentando mostrar as ótimas lembranças que tenho do meu primo. “Ele é muuuuuito legal comigo.”
E tinha encontrado. Só que havia condições: o cara cobrava programa e até disse que comigo ia por vontade mesmo, mas perguntou se eu não o ajudava com uma grana pra ele pegar um negócinho pra deixar ele no clima.
Fui ao caixa do posto e tirei dinheiro. Dei a ele uma parte e o acompanhei até uma esquina. Ele demorou bastante, principalmente da perspetiva de alguém que estava todo molhado, com frio, virado no samurai, doido de desejo e com medo de tomar uma bela de uma volta. Demorou mais ainda, mas apareceu de volta.
“Agora, nós vai pra onde, delicinha?”
“Pra um motel, eu acho.”
“Boa!”
“Meu nome é Hugo. Posso saber o seu?”
“Abel.”
“Que nome mais lindo pra um molequinho feito você. Aliás, você é maior de idade, né?” Não acredito que ele fosse levar aquilo em consideração de fato. Acho que pouco importaria se eu não fosse ainda.
“Não sou mais há dois, bem três dias agora.”
Ele sorriu leve e largo.
Faltavam-lhe alguns dentes na lateral da arcada, na direita, onde seu sorriso se abria mais, porque homem safado sorri com apenas um dos cantos da boca, cheios da segurança inerente ao tipo. O sorriso deixou à mostra vazios na arcada do rapaz onde já havia existido o primeiro prémolar do lado direito e também um vão empurrado, indicando que seu segundo molar se tinha ido antes ainda da chegada dos sisos.
Sorri de volta, porque para além das ausências dentárias constatadas, o sorriso se estendia do canto cafajeste até o olho, que junto de seu para não diziam nada além de: “tô de boas aqui. Tô com meu negócinho e tô com o melhor viadinho que eu podia ter encontrado.”
Se algo de bom posso tirar de minhas descidas ao submundo da carne e das necessidades humanas, foi o verdadeiro entendimento de que não sou melhor do que ninguém. Talvez, Hugo não tivesse tido a sorte de ter mãe doméstica em casa de gente tão rica que pudesse manter a saúde de seus dentes. Além disso, o castigo na vida da rua deixava marcas claras nos seus engolidos.
Me preocupava muito mais que me desejasse do que qualquer outra coisa.
E o homem me olhava sedento e não tinha nenhum pudor em andar comigo pela rua, apesar de seu jeito machão, me dava a vez de passar quando a calçada se estreitava por postes ou carros estacionados, todo cavalheiro, e prontamente se espantava pedintes acostumados a ver uma bicha aparentemente abastada andando no meio da rua com um cafuçú do seu lado.
Enquanto caminhávamos por ruas mais desertas, senti sua mão invadir minha calças e ficar se esfregando na minha bunda molhada.
“E como é que esse primo é legal com você?” Ele perguntou com a voz malandra, mas um pouco mais tomada de desejo.
“Ué, ele faz um monte de coisa legal.”
“Tipo o quê?”
“Ele me bota no colo dele.” Comecei toda ninfetinha. Queria me sentir exatamente assim naquele momento, talvez em consequência inevitável de seu dedo médio que tentava encontrar o meio da minha bundinha pouca “Ele me deixa ficar rebolando no colo dele.” E rebolei de leve na mão do cafuçú, amolecida. “Ele me deixa ficar lambém o piru dele, beija minha boca, entra em mim um com carinho. Me trata igual a uma menina, ele.”
“É?” Retórico e cheio de desejo. “Você gosta como ele faz? Quer que eu faça igual?”
“Uhum.” Responde beeem bucetinha, bem menina!
Pouco antes de terminarmos a escadaria de entrada do motel, entreguei ao bofe o dinheiro pra pagar a estadia. Em parte, porque queria favorecer ao ego dele, mas, principalmente, porque queria favorecer o meu próprio perante o funcionário do motel: não queria que soubesse que eu era a bicha que pagava. Incomodava um pouco estar nessa posição.
Mas não foi nada incômodo, no entanto, estar debaixo daquele homem cujo nome nem cheguei a saber.
O cara ia bastante diretamente ao ponto. Mal trancou o quarto, me tomou, todo cuidadoso e começou a me beijar, senti ligeiro nojo do gosto de sua boca, mas tentava ignorar este fato, já que ela me possuía de um jeito não delicioso que não valia a pena me ocupar de qualquer outra coisa. Ele tinha um jeito de pegar que era bem parecido também com o Pablo, não sei se o estava tentando emular a partir do pouco que eu disse combinado ao seu próprio modo de ser, ou se esse já era seu modo de ser mesmo.
O afastei por um momento e digitei para Giulia que estava bem e que não queria ir para a casa de Maurício. Perguntei se ainda estava com Rodolfo e pedi, caso afirmativos, que o convidasse para dormir em sua casa, uma vez que ele dormiria comigo. Ela quis saber onde eu estava e um sem fim de perguntas, me limitei a dizer que estava seguro longe de Maurício e insisti que ela não se preocupasse.
Em outra mensagem, para Rodolfo, lhe pedi desculpas por estragar o que ele tanto tinha se empenhando em arranjar, pedi que não contasse a Giulia, porque só ele era viado como eu e só pra ele eu me sentia à vontade pra dizer
O motel não era tão rasteiro que não tinha escovas de dente e creme dental lacrados dentro de um armário com portas de vidro trancadas. Ao ligar para a recepção para solicitar o serviço, olhando para o armário notei que também havia esponja de nylon e bucha vegetal, Estudei rapidamente os pés, unhas e pernas do meu macho momentâneo. Pedi um instante ao recepcionista:
“Você tem pressa pra sair daqui?"
“Na real, tenho o tempo que você quiser que eu fique.”
“Vou querer também uma esponja de nylon e uma bucha vegetal.” Adicionei ao pedido.
“Tô podre, né?” Hugo disse logo que desliguei o telefone olhando para as tiras encardidas de seus chinelos.
“Não é nada disso.” De algum modo eu queria proporcionar alguma dignidade aquele homem, mas tive o bom senso de não colocar isso desta forma. Me aproximei dele e o abracei apertado, sentindo o seu corpo firme contra o meu. “Só quero cuidar de você um pouco. Não é porque é uma coisa casual que precise se impessoal e rasa por completo.”
Como ainda estávamos vestidos, não houve constrangimentos quando o funcionário veio abrir o armário para retirar os itens solicitados.
Novamente a sós, puxei-o para o banheiro, pus pasta em nossas escovas e escovamos os dentes; não queria deixar que o gosto ruim de sua boca me impedisse de beijá-lo como ele parecia merecer e como eu tanto queria. Demorei-me um pouco nesta tarefa como a encorajá-lo que fizesse o mesmo, levei a escova a vários cantos da minha boca e escovei um pouco da língua.
O tutorial surtiu o efeito esperado, mas avaliei com discrição. A última coisa que eu desejava era constrangê-lo.
Maurício era tão impecavelmente asseado...
Hugo era um homem carinhoso e pude perceber que era, também, carente. Desses tipos bem durões e broncos, mas dóceis como meninos se tratados com o devido afeito. Dei-lhe o que precisava: o mesmo que me entregava. Devolvei seus beijos com paixão, mordi seus lábios, me esfreguei em seu corpo, de frente e, então de costas, alisando-o onde quer que eu conseguisse, acariciando-lhe, arranhando-lhe de leve as costas, enquanto sentia nada além do gosto da pasta de dente e das sensações e salivas provocadas por água gelada do frigobar.
Me virou de costas para ele e beijava meu pescoço enquanto segurava minha cabeça em seu ombro, mordia minha orelha, meu rosto, meus lábios.
“Espera.” Saí correndo do banheiro e busquei as esponjas e uma das cadeiras de madeira envernizada. Senta. Disse tendo posto a cadeira dentro do box de modo que seus pés ficassem na direção do jato quente do chuveiro que eu acabara de ligar, enchi a bucha vegetal de sabão líquido do dispenser e me ajoelhei dedicadamente no chão. Olhei pro bofe que parecia não acreditar no que via.
Joguei meus cabelos para um único lado. E me pus a esfregar seus pés com força, mas com delicadeza para que não lhe machucasse. Precisei enxaguar a bucha e repor o sabonete mais duas vezes. Esfreguei bem os calcanhares e as unhas, entre os dedos e mais delicadamente por onde os chinelos deixaram marcas encardidas. Esfreguei também um pouco nos tornozelos, mas dali para cima precisava da esponja de nylon.
“Caralho! O que eu fiz pra merecer isso?”
“Você parece ser gente boa. Ou pelo menos está sendo comigo.”
Ele se curvou, enfiou seus dedos pelo meu cabelo e me puxou até sua boca. Me beijou de um modo tão cálido que me impediu de perceber que minha perna começava a formigar.
Levantei e pedi que ele fizesse o mesmo e tirasse a cadeira do box, enquanto eu punha sabonete na esponja de nylon. Parte de mim sentia o peso de objetificar um ser humano. Eu não estaria cuidando daquele homem, se não o desejasse sexualmente. Outra parte, todavia, queria ardentemente cuidar dele como um indivíduo particular, não só um corpo para o meu prazer. Ademais, ele também não tinha nada de inocente. Muito embora fosse bem agradável e inspirasse confiança, sabia bem das cláusulas do nosso arranjo noturno.
Dividido, tratei de ensaboá-lo com cuidado e carinho. Hugo fechava os olhos recebendo o mimo. Minhas mãos eram leves no toque da esponja. Lavei-lhe inteiro e também seu cabelo crespo, alto, costumeiramente cortado à máquina e que a julgar pelo seu tipo, já devia ter passado da hora de aparar.
Não fiz nenhum comentário a respeito das cicatrizes em diferentes partes de seu corpo. Pareciam provenientes de feridas profundas, talvez facadas, tiros, não posso precisar, só conjeturar com minhas ideias pré-concebidas do que é a vida de alguém que morava na rua.
Então percorri todo seu corpo ensaboado, sua pica estava dura feito uma pedra. Lavei-a e também seu saco e seus pelos. Hugo se tremia todo ao meu toque macio e delicado.
“Minha vez.” Ele enxaguou a esponja e a serviu de sabonete, repetiu comigo o que fiz com ele.
Mas não tardou a me virar de costas.
“Que mina mais gostosinha!” Exclamou com calma, sua rola rígida e gorda escorregando entre as minhas pernas ensaboadas, enquanto ele me prensava contra a parede.
A água quente nos escaldava deliciosamente. Também, ele tinha pego chuva.
“Puta que pariu, maluco!”
Se permitiu o júbilo assim que me ouviu gemendo feito uma putinha virgem e rebolei, apertando as coxas e me agarrando a ele, tendo soltando as mãos da parede. Só ele me sustentava de pé agora.
Senti seus beijos pelas minhas costas, e ombros e nuca. Ele lavou ensaboou as mãos e com uma delas lavou-me o cuzinho e abusou dele, com alguma ternura até, esfregando os dedos no meu buraquinho e deixando escorregar devagarinho a ponta de um deles. Pisquei o cu, trancando seu dedo. Ele gemeu. Me enxaguou um pouco mais impaciente e desligou o chuveiro.
Me secou enquanto eu o secava. Me tomou pela mão, me puxando para o quarto.
Ele sentou na cama e usou um pouco do negocinho que lhe deixava no clima. Enquanto ele se preparava e usava, eu me ajoelhei diante dele e comecei a lhe beijar o pau, agora, meia bomba. Lambi suas bolas e então coloquei minha boca em volta da cabeça quente e vermelha de seu pau que começou a pulsar entre meus lábios. Ele riu, perguntou se eu também queria a substância, eu fiz que não com a cabeça sem tirar seu pau da boca, ele, então, guardou a coisas no bolso de sua bermuda pendurada em outra cadeira, ao lado da cama, e começou a acariciar meu rosto e cabelos, como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo, sentindo-se muito grato por me ter ali e pelo que eu fazia com a minha boca.
Passado um tempo, ele se levanta e começa a empurrar sua piroca para dentro do meu rosto, fazendo com que sumisse, e lentamente tirava toda e lentamente tornava a enfiar. Ele se abaixava para me beijar e morder meus lábios e rosto.
“Gosta muito de pica, né?”
“É tão notório assim?’ Me fiz de desentendido.
“Tá na cara!” E literalmente pensei enquanto sentia sua rola se esfregando babada no meu rosto.
Metia minha cara em sua virilha e fiquei chupando suas bolas e sugando seus pentelhos. Ele gemia deliciosamente e implorou pra que eu voltasse a abocanhá-lo.
O fiz bem a tempo de receber os esguichos de sua porra maravilhosa e abundante.
“Bebe meu leitinho, bebê, bebe.”
Não podia recusar um pedido daqueles, podia? Bem, não queria também. Ele desfaleceu voltando a sentar na cama.
“Princesa, vou segurar a onda um pouco.” apontou para sua bermuda. “Tô muitas noites virado, quero dar uma descansada pra cuidar de você melhor. Tá bom?”
Confesso que não era bem o que eu queria, mas não podia ser tudo só a respeito do que eu queria. Concordei, me sentindo frustrado, mas fiz questão de cuidar que ele não percebesse isso.
Ele se deitou de lado e acenou pra que eu deitasse em frente a ele, fiquei de ladinho também. Ele me envolveu em seus braços e fiquei sentindo sua respiração na minha nuca, seu corpo contra o meu e os pelos de seu pau na minha bunda.
A pica foi ficando dura de novo e eu comecei a me animar, mas ele adormeceu, de fato, com o pau duro cutucando a entradinha do meu cu, porém. E como se não se tivesse passado minuto, foi exatamente essa sensação que me fez acordar uma hora e pouca mais tarde. Agora acesso, descansado e cheiroso, aquele homem se mexia lentamente pra frente e pra trás forçando sua rola quente e dura contra o meu anelzinho, sem, no entanto, tentar penetrá-los.
Hugo mordia minha orelha e me chamava baixinho:
“Acorda, princesinha.” E me beijava o pescoço. “Deixa teu homem botar dentro, deixa?”
Acordando ainda, imbuído naquela deliciosa moleza que me dá nos braços de um homem sussurrando meu ouvido, acariciei suas coxas peludas, fiz que sim com a cabeça.
“Bota. Bota ele em mim, vem.” Já me rebolando, bamboleando a ponta daquela cabecinha macia e rígida com o biquinho que meu cu fazia lhe chamando.
Hugo cuspiu farto em seus três dedos do meio da mão e besuntou meu cuzinho, fez que ia e vinha ao meu rebolado, mas só cutucava bem devagarinho enquanto e chamava de sua menina, de sua flor, seu amorzinho. Meteu, então os mesmos três dedos no fundo da minha boca, forçando a produção de saliva densa e aí a misturou ao mel que escorria de sua uretra e investiu sem deixar dúvidas de que agora me invadiria.
E que invasão deliciosa! Não senti nada de dor, mesmo a despeito do colosso que admitia nas minhas entranhas. Hugo ia e vinha com calma deixando que me reto o sugasse com sede pra dentro.
Firmei minha mão em sua nádega, tanto para puxá-lo para dentro, quanto para me firmar enquanto me mexia de encontro aquele pau para devorá-lo como meu cu. Como eu ardia de desejo por aquele homem! Também me permitia ter a cabeça virada por sua mão forte para beijá-lo docemente enquanto sua vara se enfiava mais fundo e mais ávida pra dentro de mim.
Tanto que me virou de bruços e deixou seu peso cair sobre mim. Senti o suor de sua púbis sobre minha bunda. O suor frio de sua testa deslizando demoradamente no meu pescoço. E ele voltada a me mordiscar e me chamar de nomes adoráveis ao ouvido e a entrar constante e profundo na minha intimidade que eu fazia se abrir movendo junto para que ele me preenchesse mais.
“Isso dá cu pra mim, dá, meu viadinho.” Gemia deliciosamente, fazendo com que meu me tremesse todo e gemesse baixinho pedindo que me desse mais.
“Fica dentro de mim, gostoso. Faz lá dentro, tudo dentro, assim, meu macho.”
Ele não acelerou o ritmo, manteve-se firme, forte e incisivo, mas não bombava feito cachorro no cio; me envolvia todo em seus braços.
“Esse cuzinho é só meu, né?”
“É?”
“Só eu vou botar nele?”
“Só você, meu home.” Gemi toda fêmea que adoro ser, muito embora tinha certeza de que este não seria o caso e, também, quase certeza de que que ele tinha a mesma certeza. Bem, eu esperava. Também não vale estragar a brincadeira com a realidade. Naquela hora, à beira da morte, costumamos escolher crer no paraíso. O vislumbramos, iluminado, cintilante e quente no meu reto.
“Nossa, minha flor, abertinha assim pra mim eu não aguento.” Eu abria a musculatura do meu cu pra ele ter livre acesso. Ele fazia tão gostoso que eu só queria retribuir. “Eu vou te botar leitinho.”
“Hummmm. Pode botar.” Eu estava desbaratado. “Bota leite em mim. Me deixa toda lambuzada do seu pau. Faz! Faz, meu macho.”
Só, então, ele acelerou pouca coisa e meu cuzinho se abria mais para sua livre exploração, me agarrou forte, se fincou no meu ouvido:
“Toma leite, meu viadinho. Bem no seu cuzinho gostoso. Toma. Toma leite.” Gemeu aos urros contidos, apenas para mim, bem no meu ouvido que estava. Recobrou fôlego tragando ar de minha pele. Me beijou a pele descansando, se acomodou por sobre mim, desfalecendo. Seu suor molhando minhas costas, seu rola ainda dentro, eu querendo me fundir nele.
Se as circunstâncias fossem outras, eu poderia escolher ser sua fêmea pra sempre. Senti enorme dor por aquele homem. Fosse ou não inteiramente responsável pelo seu destino, se encontrava sem poder aquisitivo para sequer ser amado, quero dizer, não tinha meios de ter onde amar, não tinha nada, apenas a rua e quem, vez por outra, aparecesse de lhe dar um chamego.
Queria que as coisas fossem diferentes. E como dizem: cuidado com o que deseja: você pode conseguir.
“Pena que nunca mais te vejo, né? Queria ter condições de ter um viadinho que nem você pra mim todo dia.”
Ele me disse no início da tarde seguinte enquanto eu me preparava pra ir embora, depois dele ter me leitado de novo.
Senti enorme dor por aquele homem. Não tinha poder aquisitivo nem para ser amado, quero dizer, não tinha meios de ter onde amar, não tinha nada, apenas a rua e quem, vez por outra, aparecesse de lhe dar um chamego.
Ele ainda tinha mais algumas horas pra aproveitar o motel. Nos beijamos com fogo e quase me entreguei a sua rola novamente, mas sentia que precisava ir. O chamei para ir comigo até a rua e tirei um dinheiro pra dar ele, não como pagamento, não era necessário. Queria garantir que ele fizesse alguma refeição e tivesse um trocado pra qualquer coisa.
Me despedi e chamei um táxi.
“Pra onde?” Logo que entrei fiquei quieto olhando o bofe sorrindo triste pra mim do lado de fora. “Pra onde?” Repetiu impaciente.
“Não sei, moço. Não tenho pra onde ir.” Mas ao invés disso, dei o destino da casa de Sônia. Nem que fosse só pra ir catar minhas coisas, se é que eu tinha coisas que pudesse dizer que, de fato, tinha.
Quando cheguei, fui direto em direção a entrada dos fundos, mas parei a meio caminho, girei meu corpo e me dirigi à porta de frente, afinal de contas aquela era a porta em que eu devia entrar e ponto! Mesmo que sem direitos legais, ainda que nas dependências muito limitadas que me cabiam, mesmo que não me pertencesse, as pessoas a quem a casa pertencia me adestraram a conhecer aquilo como lar desde que me sei por mim mesmo.
Mas quase que preferi não tê-lo feito. Tomado de susto, soltei um grito:
Maurício caído no tapete da sala, torto, sua nuca dolorosamente retesando o pescoço contra a base do sofá. O queixo pressionava o peito, vômito seco do queixo ao peito com se uma montanha velha de um vulcão antigo.
Acionei o plano de saúde. Sacudi-lhe, estapeei seu o rosto: nada.
Continua...
Queridos, sei que não sou o mais frequentes dos publicadores, mas tem um tráfego de cerca de 1000 pessoas diárias neste blog e 390 comentários ao todo. Custa muito compartilhar o que sentem ao ler? Deixar críticas, experiências semelhantes, etc?
Poxa, comecei isso com o intuito de compartilhar, de comunicar e é extremamente solitário quando seu trabalho se dá apenas entre você e um teclado. Seria bem legal contar com comentários mais frequentes.
Por favor, fiquem à vontade.
Bjos.