O Vencedor
Capítulo 13
Parte I
"Ai, que susto mãe!" Dei um salto. A cara pálida e os cabelos alvoroçados.
"Susto?" Ela tentava parecer irritada, mas tava na cara que queria rir de mim. "Susto quem tá levando sou eu com a hora que o senhorito me aparece em casa." Não parecia mais querer rir.
"Mão são só uma e quarenta e", olhei rapidamente pro relógio redondo na parede, "sete. Nada de mais."
"Onde você tava até agora."
E a coisa toda se escreveu no meu rosto. Foi mais forte, ela me perguntou, eu pensei na resposta certa e ali estava ela, em letras garrafais na minha testa. Minha mãe, que sabia ler, assumiu postura de pedra, muda e de olhar fixo na criança que ela via ir embora, bem, pelo menos, pra ela, claro. Porque a criança que ele ainda via já tinha ido.
"Tudo bem?"
"Tudo."
"Ele forçou você?"
"Mãe! Não!"
"Usou preservativo?"
"Mã-ã-ãe! Pelo amor de Deus. Para." O olho dela me fuzilava. "Usei. Toma. Trouxe jiló pra você!"
Ele chegou mais perto e me abraçou. Tinha ar de uma tristeza que eu não sei explicar direito qual. Uma tristeza amorosa e já um saudosismo. Acho que algo desse tipo, assim.
"Tenho outra notícia."
"Vai casar." Ele riu.
"Não, mãe. Dá pra parar?"
"Anda. O que é?"
"Ainda não posso ter certeza, mas com os 912.57 pontos que eu fiz no Enem", parei pra saborear os efeitos dessas palavras no rosto dela, "acho que consigo passar pra Comunicação na UFRJ."
Ela pulou e gritou – em silêncio. Me abraçou e de novo e outra vez o tempo todo que não parava de me sacudir.
"Consegue acreditar? Menos de 1% faz mais de novecentos pontos, mãe." Os olhinhos dela brilhavam.
"Espera aqui."
Não demorou e ela voltou trazendo uma caixa do bombom fino que um amigo da casa, que arrastava uma asa pra ela, tinha lhe dado de presente no Natal. Eu vinha implorando um desses desde então, mas ela nem aí pra mim.
"Não creio." Eu ri agradecido pela festa que me minha mãe estava fazendo com a notícia.
"Ah, quer saber?! Se der caso, eu compro outra e boto no lugar."
"Do que tá falando?" Mas ela me mandou calar com um aceno e voltou do freezer com uma garrafa de champanhe das que Maurício vivia pedindo que se colocasse pra gelar.
"Mãe, isso é muito caro!"
"É o que tem aqui agora. Fazer o quê? Eu quero beber champanhe porque meu filho passou pra faculdade."
"Não passei ainda, mãe. Calma."
"Claro que passou! As faculdades vão brigar pelo meu filho de novecentos pontos." E fez uma dancinha eufórica.
Ela abriu a garrafa sem se dar ao luxo de estourar porque era tarde demais pro barulho todo.
"Ao meu futuro jornalista." Ela ergueu a taça ("Vamos beber na de cristal!") sem muita afetação, sincera e honrosamente, havia orgulho nos olhos molhados dela e de repente a impressão de bolo na garganta. "Que ele nunca precise fazer as mesmas escolhas que eu." Brindamos e bebemos.
Mal engolimos nossos goles e o dono da bebida entrou na cozinha com cara de sono.
"Opa." Ele disse muito sem graça. "Eu não sabia. Não vou demorar." E a empregada e o filho tomando seu champanhe caro de madrugada na cozinha de sua casa. Ainda com taças!, como se pobres, estivéssemos nos sentindo muito chiques com aquelas taças enquanto os patrões dormiam. Eu queria morrer! Me enfiar pelo ralo da pia e sumir.
O pesar com que minha mãe terminou o brinde pareceu se intensificar à chegada dele. Será que ela sabia de alguma coisa e esse papo de escolhas tinha a ver com não me relacionar com Maurício? Mas ela se refez logo. E voltou a ser a empregada da casa, mais do que apenas minha mãe.
"Ah, Maurício, me desculpa. Eu peguei uma garrafa dessas. Amanhã eu compro outra e ponho de volta." Ela falou rápido atropelando de uma vez. A servilidade martelava cada sílaba. Me doía ver minha mãe falando assim com qualquer um, mas com ele era pior. Ficava pessoal. Como se ele me olhasse lá do alto e dissesse: "Viu só como até sua mãe fala comigo?!"
"Me desculpa." Voltou a reverenciar. "Mas eu precisava comemorar." Não conseguia se conter.
"Esquenta não." Ele enchia um copo de água. "Tá comemorando o quê?" E, então, era curioso ver como ele se despia de sua glória e virava uma pessoa normal quando falando com minha mãe. Ele definitivamente a tratava muito melhor do que tratava a mim, ou, até mesmo, a própria mãe. Se fosse eu ali contando que tinha pego uma garrafa ele a teria quebrado na minha cabeça. Se bem que não. Ele não era mesquinho. Realmente não ligava pra essas coisas. E se fizesse questão, seria óbvio que era só como pretexto pra me humilhar, igualzinho a como fora com o boneco Melocoton.
"Abel passou pra faculdade."
"Não passei ainda, mãe." Eu encarava a mesa.
"Ah, mas passou no Enem." Me repreendeu contundentemente. E voltou pra Maurício: "Fez novecentos... Novecentos e quanto, filho?"
"Novecentos e doze." Encarava o pé da mesa.
"E com isso com certeza já passou."
"Eu não entendo muito do Enem. Isso é bom?" Ele olhou pra mim, senti seus olhos na minha pele, estava ali, ele mesmo, Maurício, sem o manto de rei, meu salvo conduto na presença da minha mãe.
"É sim. Menos de um 1% consegue fazer mais que novecentos pontos." Ela repetiu toda cheia de si e eu não suportei mais fugir de olhá-lo, era bom demais ser tomado pelos impulsos nervosos que meus olhos mandavam ao meu cérebro quando aquele rosto se apresentava na minha frente. Bom demais pra que desperdiçasse qualquer oportunidade.
A não ser que eu muito me enganasse, aquilo brotando no rosto de Maurício era um sorriso. Fazia muito tempo que eu não o via sorrindo assim. Ele olhava pra mim e sorria, mais nada.
"Então, eu acho que vou ter que tomar um copo com vocês." Minha mãe sorriu largo, talvez honrada. Tipo, como se o senhor do feudo tivesse vindo, em pessoa, prestigiar o casamento da filha de um vassalo.
Mas não perdi tempo com isso. Maurício estava bem ali agindo de maneira estranha, generoso e feliz por uma vitória minha, sorrindo e bebendo por causa de mim. Não sei se aquilo tudo se devia, de fato, às boas novas ou a eu não ter cedido pra ele. Talvez estivesse mansinho assim porque eu não dei o que ele queria. E eu podia apostar todos os meus 912.57 pontos que ele não estaria sorrindo e enchendo um copo com champanhe se soubesse que, não havia muito tempo, estava no banco de trás de uma carro cavalgando seu dono.
"Parabéns." Ele me disse quando encostou a taça na minha e virou o conteúdo de uma vez. "Boa noite pra vocês."
Minha mãe deu um chocolate a ele também, como se fosse uma lembrancinha de festas dessas que se dá no final. Ele pegou o chocolate e foi embora com ar de felicidade. Mas já? Fica mais. Fica aqui...
"Viu? Até Maurício ficou feliz. É demais." Ela estava muito eufórica, mas não ficou por muito mais tempo. "Eu vou dormir. Tá muito tarde já. Você:", como quem delegava funções, "termina essa garrafa. Você merece. Mas não bebe mais nada. Termina e vai dormir."
"Tá bom, mãe." Ela beijou minha cabeça. "Obrigado."
"Pelo quê?"
"Ah, por ter ficado tão feliz e pelo champanhe e o chocolate."
"Eu é que agradeço. E é pra terminar a garrafa. O chocolate não. Me dá aqui." Falou, mas não tinha ninguém segurando. Tirou uns três bombons, me deu e fechou a caixa de novo, levando-a consigo.
Eu não sei quanto a você, o que você faria, mas eu não ia meramente ficar ali bebendo sentado até esvaziar a garrafa e ir dormir. Corri no meu quarto e tirei a bermuda. Me tinha ocorrido uma ideia, mas primeiro eu precisava fazer uma coisa logo.
Liguei o computador e fiz minha inscrição no Sisu. Assim, rápido e fácil, eu devia estar com muita sorte. Joguei uma água no corpo e coloquei uma sunga, catei meu celular, a garrafa de champanhe e os três bombons. Me mandei pra piscina. Era só não fazer muito barulho e teria minha própria pool party individual. Minha mãe tinha dito tudo: eu merecia.
Tocava Mama Cass baixinho no telefone e eu dançava dentro d'água sob o luar. Aquilo que era vida!
Continua...
<<<Olhem, há fins mais urgentes para o celular que eu uso agora. Entre deixar vocês sem nada hoje e deixar vocês com pouco, escolhi dividir o capítulo. Hoje, não vou mais poder voltar, mas amanhã publico a Parte II do Capítulo 13, que é bem grande. Vocês vão ter muito o que ler. Até mais.>>>
Meu sonho se relizou, assim que atualizei a página. Apareceu o novo capítulo❤
ResponderEliminarMe sinto exatamente assim quando atualizo e vejo comentários de vocês.
EliminarObrigado.
Obrigado por esse pedaço liberado! Eu tô adorando a história e antes eu estava com um pé atrás achando que você ia fazer com que ele esquecesse do Sisu, quase enfartei haha K.
ResponderEliminarKKK Não esqueci. Jamais esqueceria.
EliminarGente eu juro cada capítulo novo na página é um sonho realizado
ResponderEliminarObrigado, mas como assim? Explica melhor aí. Fala mais. rs
EliminarMeu sonho de curso. E a cada dia a historia fica melhor, to amando. @L
ResponderEliminarSempre foi meu maior sonho também.
EliminarObrigado por gostar.
outro capítulo! agr!!!
ResponderEliminareu não vou aguentar
outro capítulo! agr!!!
ResponderEliminareu não vou aguentar
AMEREEI CONTINUA ASSIM BB
ResponderEliminarValeu!
EliminarMagnífico!!!!
ResponderEliminarObrigado.
EliminarEu fique comentado mais lá no site contoerotico.com e esqueci de comentar aqui também. E NOSSA você é o melhor de todos. Eu estou passando por um momento bem difícil e seus contos me alegram muiiiiiiiito. Obrigado por isso <3
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